As bacanais eram festas realizadas em honra ao deus romano Baco, chamado de Dionísio pelos gregos. Era o deus do vinho e dos prazeres. As festas eram, muitas vezes, orgias. As bacantes, consideradas sacerdotisas do deus, dançavam desenfreadamente vestidas com peles de leão. Por isso, a palavra bacanal permaneceu como sinônimo de reuniões em que há orgia, sexo e danças.
No início, apenas mulheres eram admitidas na festividade, mas com o tempo deu-se permissão para homens participarem também. Em 186 a.C., um decreto do Senado romano proibiu as bacanais em Roma. Mas não foi respeitado. Resquícios da comemoração chegaram até o Brasil. Ainda no século XIX, em Pernambuco, durante a Páscoa, realizava-se uma festa dedicada a Baco, com banquetes, procissão e cânticos. Em 1869 a Igreja conseguiu a proibição do festejo, argumentando que era inadmissível em um país católico.
O mito grego de Narciso começa quando uma mulher dá a luz ao menino que recebe esse nome e é lindíssimo. A mãe fica preocupada com a beleza sobre-humana do filho. Tal extremo poderia causar o pecado da arrogância - que é o de se achar acima de sua condição - e provocar o castigo dos deuses. Aconselhada por um Oráculo, então, a mãe de Narciso retira todos os espelhos da casa e protege o filho de ver a si mesmo. Assim ele cresce, ignorando sua imagem e a paixão da ninfa Eco. Um dia, quando ele se perde na floresta e começa a gritar por ajuda, ouve suas palavras repetidas por Eco, que fora condenada a reproduzir apenas as últimas sílabas pronunciadas por alguém. Narciso imagina que a voz é de um amigo e a segue. Quando vê Eco, a despreza e continua a caminhar até encontrar um lago para tomar água. É ali que se apaixona pelo próprio reflexo. A paixão torna-se prisão porque o jovem não consegue parar de se amar nem suporta se afastar do lago, que contém sua imagem. Ele morre de inanição e os deuses o transformam numa linda flor.
Segundo o analista junguiano Rodney Taboada, o mito grego de Narciso aborda tanto a questão da auto-estima quanto a do narcisismo. "Sem conhecer a si mesmo não há auto-estima, e Narciso não pode amar o outro, mas apenas a si próprio", conclui.
Na mitologia há um deus chamado Kaerós (não tão conhecido como Apolo e Vênus, deuses da beleza, ou Cronos, deus do tempo). É o deus do instante. Aquele que passa rápido, imperceptíve e deixa uma marca, uma lembrança, uma imagem, um som, um perfume ou uma sensação que ficarão marcados para o resto de sua existência. A figura de Kaerós é bem interessante. Ele é todo liso, sem nenhum cabelo, muito escorregadio, difícil de segurar.
A expressão foi criada para designar o ponto fraco de alguém. Segundo a lenda grega, Aquiles, filho do rei Peleu e da deusa Tétis, tornou-se invulnerável quando, ao nascer, foi banhado pela mãe nas águas do rio Estige. Apenas o calcanhar por onde Tétis o segurou não foi molhado e continuou vulnerável. "Algumas variantes dizem que Aquiles foi flechado no calcanhar por Páris, que conhecia seu segredo. Mas não há citações em Homero sobre a morte do herói", diz o mitólogo Henrique Murachco, da Universidade de São Paulo.
Outra versão considera o calcanhar de Aquiles como uma virtude. Segundo ela,Tétis tentava erradamente, livrar os filhos da condição de mortal jogando-os no fogo. Peleu salvou Aquiles das chamas queimado e sem o osso do calcanhar e incumbiu Quíron, centauro conhecedor da medicina, de colocar no filho o osso de Dâmiso, um gigante veloz. Aquiles, adquiriu a velocidade que lhe deu fama.
Exéquias foi um pintor grego de ânforas, ou vasos, e ceramista que trabalhou em Atenas na Antiguidade. Ele usava principalmente a técnica de pintura negra, que floresceu entre 700 a.C. e 530 a.C. As obras de Exéquias são notáveis pela composição marcante, pela limpidez da técnica de desenho e pela caracterização econômica. Onze obras assinadas por Exéquias sobreviveram e cerca de 25 vasos lhe são atribuídos. Uma das obras mais famosas é esta ânfora que retrata Aquiles e Ájax, míticos guerreiros gregos da Guerra de Troia, envolvidos em um jogo de estratégia. Enquanto brincam para ver quem vai ganhar, eles também aguardam o resultado de outro "jogo" estratégico, de dimensões mais amplas - o desfecho da guerra. Exéquias foi um pintor inovador e não existem registros do jogo entre Ájax e Aquiles na literatura grega. O outro lado do vaso apresenta um retrato em família dos "gêmeos" Castor e Pólux e de seus pais, Leda e o rei Tíndaro. Leda era a mãe de Castor e Pólux, mas eles tinham pais diferentes. Zeus, que apareceu para Leda sob a forma de um cisne, era o pai de Pólux. Tindaro, marido de Leda, era o pai de Castor. Os garotos tinham uma irmã famosa, Helena de Tróia. Já foi sugerido que a cena nesta ânfora representa os gêmeos enquanto partiam para resgatar Helena das mãos do rei Teseu, seu primeiro sequestrador. Outras obras de Exéquias também retratam cenas da Guerra de Troia, como Aquiles matando Pentesileia, rainha das amazonas.
Esse vaso, chamado Hydria foi criado pelo pintor de Meidias (em atividade entre c. 420 a.C - 400 a.C) com uma técnica de pinturas desenvolvida na época chamada de pinturas vermelhas. Na pintura de cerâmica vermelha, as formas e os desenhos surgem como argila não esmaltada vermelha, contra um fundo preto esmaltado. As imagens são delineadas previamente e o fundo é pintado de preto, o que permite que os desenhos sejam preenchidos com tinta e não entalhados com um buril. O termo Hydria designa uma vasilha usada para carregar água. As pinturas dessa vasilha geralmente falavam a respeito da lenda de Faon. Ele teria sido um velho barqueiro que ganhava o pão de cada dia atravessando viajantes entre Quios e Leslos. Uma vez, Vênus, disfarçada como uma miserável velhinha, solicitou ao barqueiro que a atravessasse de graça. Com pena da senhora ele assim o fez. Reconhecendo seu bom coração, Vênus deu como presente um vaso cheio de maravilhoso perfume capaz de tornar Faon no mais belo e cobiçado dos homens. Faon foi amado então por todas as Lésbias sendo que entre elas, Safo, uma das mais belas, o amou com especial ardor. No entanto, Faon, cansado de tanto assédio decidiu se mudar para Sicília. Safo o seguiu e ao ser rejeitada novamente se precipitou do rochedo de Leucade. Toda região de Lesbos chorou a morte de Safo.
Safo, por Charles-August Mengin
A lenda de Safo e Faon, como todo mito, está ligado a alguns fatos reais que ainda estão sendo pesquisados por historiadores. Uma das coisas que pesquisam é que se o termo lésbias aplicados às moradoras da cidade estariam ligados ao homossexualismo feminino. O que se sabe é que Safo teria existido como poetiza versada no culto à Vênus e que era muto famosa sendo que entre os vestígios de seus poemas existem indícios de romances entre mulheres. Chegou a ser reconhecida como a décima musa. Alguns dizem que talvez a lenda de Faon tenha sido apenas uma reinterpretação da lenda de Narciso ou uma licença poética para um dos amores de Vênus porém, como tudo o que chegou até nós dessa época são fragmentos ainda não se conseguiu elucidar o fato. Não se sabe também que fim teria tido Faon.
Conforme o canto Gregoriano foi evoluindo, foram surgindo inovações dentro da música rígida e religiosa da Idade Média. Dentre essas novas evoluções tivemos os "goliards". Conhecem-se com este nome os frades que, tendo abandonado os seus conventos, pediam esmola e vagabundeavam de uma região para outra. Durante a sua estadia nos conventos, tinham recebido uma dupla formação: musical e literária, e exploravam os seus conhecimentos por meio de uma série de canções, regra geral dedicadas ao vinho, à comida e ao amor. Os textos estavam cheios de brincadeiras dirigidas ao clero, à vida de convento e aos costumes religiosos. Dirigiram-se a uma classe social muito concreta e dizia-se deles, também chamados clerici vagante, que constituíam uma primeira evidência de contra-cultura ou de cultura "underground". Perdeu-se uma grande parte das canções dos "goliards", mas chegaram até nós testemunhos dessas obras desde o século XI. O primeiro que foi localizado foi o manuscrito de Munique, que procede da Abadiade Beuron, e que foi conhecido com o nome de Carmina Burana, datado do século XII. A atividade dos "goliards" estendeu-se até ao século XV. No século passado o compositor alemão Carl Off fez uma "re-criação" do mencionado manuscrito, utilizando alguns dos seus textos. A sua obra, que tem o mesmo título, Carmina Burana cantiones profanae, foi estreada em Frankfurt em 1973. Eu encontrei esta obra legendada na net. O canto clássico é algo bem difícil para o brasileiro assimilar e gostar pois além de precisar de um bom conhecimento de cultura clássica européia ainda possui algumas coisas que apenas o europeu é capaz de entender, como a alegria com a chegada da primavera depois de um inverno gelado. Para quem gosta, eu trago esta obra e também um aprofundamento em cultura clássica. Bom divertimento.
Hécuba é uma personagem da mitologia grega e romana, esposa de Príamo e mãe de 19 filhos. Alguns desses filhos se tornaram famosos como Heitor, Páris e Cassandra. Viu toda a sua prole ser morta e acabou se tornando escrava. Sedenta por vingança cegou o rei Polimestor e matou dois filhos do rei trácio. Foi apedrejada pelo povo e como mordia os que a atingiam os deuses a transformaram em uma cadela cujos uivos assombravam os transeuntes.
Flora era a deusa das flores, amada pelo deus dos ventos Zéfiro.
Febo era um outro nome de Apolo. Alguns dizem que teria sido um deus anterior a Apolo que acabou por se confundir com ele ao longo do tempo. Apolo personificava o sol e a luz. "Deitado novamente no colo de Flora, Febo novamente sorri" significa apenas que raios de sol iluminam as flores. Ê povo complicado.
Os prêmios do Cupido e de Vênus como todo mundo já deve saber é o amor. No entanto, o que tem Páris a ver com isso? Já ouviu falar do pomo da discórdia? Dizem que a própria deusa da discórdia entregou esse presente de grego para os deuses pedindo que fosse entregue à mais bela das deusas. Isso gerou um problema já que Juno, Vênus e Atena se consideravam, respectivamente, as donas do pomo. Decidiram então entregar o pomo a Páris e pedir que ele escolhesse a mais bela. Faça como Páris no caso é escolher o amor, ou seja, escolher Vênus como a mais bela conforme é relatado no mito.
Décio Olha, não estou bem certa sobre esse Décio, mas talvez se refira a um imperador romano famoso por sua perseguição aos cristãos (cometeu atrocidades comparáveis à de Nero, aquele que botou fogo em Roma). Foi o primeiro imperador romano a morrer na mão de povos pagãos em guerra.
Baco era o deus do vinho. Seu rituais eram verdadeiras orgias com muito sexo, comida e bebida.
Brancaflor foi o nome usado por várias personagens femininas nos contos do Rei Arthur. Geralmente acaba se apresentando como a consorte de um dos cavaleiros da távora redonda, o Percival ou Perceval.
Helena aqui citada seria a de Tróia cujo amor que insuflou em Páris foi responsável por toda a guerra de Tróia. Apesar das representações em pinturas clássicas, a mais bela das mulheres da era clássica seria etíope, e portanto, negra.
Antes do aparecimento da arte na Grécia continental, várias civilizações antigas prosperaram no mar Egeu e seus arredores, sendo que a primeira delas foi a civilização das ilhas Cíclades, num arquipélago que fica no sudeste da Grécia continental. A partir de 3.000 a.C., uma onda de colonos da Ásia Menor começou a produzir uma variedade distinta de estatuetas usando o mármore da região. Muitas delas representam mulheres numa pose simples e ereta, com os braços cruzados em frente ao peito (à direita, em cima), embora também tenham sido encontradas algumas esculturas masculinas: os homens costumavam ser retratados com instrumentos musicais ou armas. A utilidade dessas estatuetas permanece um mistério. A maioria delas foi descoberta em sepulturas, mas não era nova quando foi colocada ali, por isso certamente tinha algum significado também para os vivos. As esculturas talvez tivessem enfeites pintados, mas esses enfeites se desgastaram com o tempo. As formas concisas e minimalistas das imagens serviram de inspiração para escultores modernos, assim como a estética da escultura tradicional africana influenciou a obra de artistas do início do século XX, como Pablo Picasso (1881-1973), Henri Matisse (1869-1954) e Alberto Giacometti (1901-1966).
A maior das civilizações egeias surgiu em Creta em aproximadamente 3000 a. C. Os artistas minoicos se inspiraram no Egito, na Síria e na Anatólia, mas fundiram os vários estilos criando a própria arte, extremamente original. Eles se sobressaíram na fabricação de cerâmicas, jóias, afrescos e esculturas de tamanho reduzido. A cultura minoica se concentrava nos grandes palácios de Cnossos, Malia e Festos, que eram conjuntos de construções usados com objetivos comerciais, religiosos e cerimoniais, e não apenas residências. Eles continham armazéns para grãos e oficinas para artistas, além de espaço para grandes aglomerações. Os palácis eram extravagantemente decorados com afrescos. Em Cnossos, ainda existem fragmentos de pinturas retratando as espetaculares procissões e exibições de acrobacias, que exerciam um importante papel no ritual cretense das touradas. Os afrescos também mostram representações vividas da natureza, incluindo um gato caçando um pássaro, um macaco numa plantação de açafrão e um friso de golfinhos azuis.
A influência minoica se estendeu ao continente grego, onde teve um grande impacto sobre os micênicos, que properaram na região de 1600 a 1100 a. C. A civilização deve seu nome à antiga de Micenas, no nordeste do Peloponeso. A partir dessa cidade, os micênicos aos poucos estenderam seu domínio por todo o sul da Grécia e pelas ilhas próximas. Eles eram mais guerreiros que os minoicos; seus palácios eram fortificados e deixaram para trás muitas armas e artefatos de guerra. Os antigos gregos se inspiraram em Micenas ao criarem sua própria civilização. De acordo com a mitologia grega, a cidade foi fundada por Perseu e governada por Agamenon, que liderou as forças gregas na guerra contra Troia. Homero descreveu a cidade como rica em ouro na Iliada.
A descrição de Homero parece ter algo de verdadeiro. Quando o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann (1822-1890) escavou um conjunto de sepulturas verticais (mausoléus que consistiam de um fosso profundo e estreito), em Micenas, em 1876, suas escavações produziram resultados impressionantes. Além de muitas jóias e armas enfeitadas com ouro e prata, ele descobriu uma coleção de máscaras mortuárias que eram feitas forjando-se o ouro em folhas finíssimas sobre um molde de madeira. Os detalhes eram mais tarde esculpidos em uma ferramenta afiada, e dois buracos próximos aos ouvidos eram usados para manter a máscara no lugar com fios sobre o rosto do falecido. Schliemann esperava relacionar essas máscaras à corte de Agamenon, e uma das máscaras folheadas a ouro foi chamada de Máscara de Agamenon (esta aí em cima). A máscara, contudo, foi feita 300 anos antes da época do herói grego e provavelmente cobria o rosto de um governante micênico.
O famoso pintor renascentista é o autor dessa obra. Uma vez ele escreveu: "Para pintar a beleza, preciso ver mais mulheres belas... mas ao ser privado das belas mulheres, eu me contento com a ideia que me vem à mente". A ideia de beleza perfeita que Rafael tinha, inspirada em Platão, foi expressa nos traços de quase todas as mulheres que ele retratou. Em sua obra, ele modificou ligeiramente um antigo retrato de Santa Catarina de Alexandria para compor o rosto da ninfa dos mares, Galateia.
Galateia foi amada pelo temível ciclope Polifemo, porém ela o rejeitou e iniciou uma fuga para encontrar seu verdadeiro amor: Ácis. É justamente nesse momento que ela é retratada por Rafael. Dizem que essa obra foi solicitada por Agostini Chigi, patrono de Rafael, que tinha esperanças de se casar com Margherita Gonzaga, filha do marquês de Mântua, mas cuja proposta estava sendo rejeitada. É provável que Chigi tenha escolhido esse tema influenciado por versões anteriores do mito, nas quais os galanteios do ciclope para Galateia terminam com um final feliz para ele. No quadro, Galateia ignora as flechas lançadas pelos cupidos em sua direção, olhando apenas para o cupido cujas flechas permanecem guardadas. Esse cupido representa o amor platônico e, ao olhar para ele, Galateia revela sua rejeição aos galanteios do ciclope e sua preferência por um amor mais espiritual do que físico. Os golfinhos que puxam a carruagem da ninfa também saíram da literatura. O poeta Angelo Poliziano assim descreveu em sua versão do mito: "Dois golfinhos puxam uma carruagem: nela está sentada Galateia, que controla as rédeas; enquanto nadam, os golfinhos tomam fôlego em uníssono".
Tem muita gente que confunde essa Galatéia com outra também famosa esculpida por Pigmalião e que ganhou vida por graça da deusa do amor. Mas a Galatéia aqui retratada era uma ninfa e uma das nereidas. Era apaixonada por um camponês que também era filho do deus Pã e de uma ninfa. Dizem que Polifemo flagrou os amantes juntos e num acesso de fúria esmagou Ácis com uma enorme rocha. Galatéia intercedeu junto à mãe deste e esta transformou o sangue de Ácis em um rio com o mesmo nome. Depois a ninfa se jogou ao mar e foi viver nas ondas que tocam as areias com suas espumas brancas sem jamais retornar à terra.
Inspirada na história dos dois amantes escrita por Ovídio e Catulo, esta obra-prima, uma das primeiras de Ticiano (Tiziano Vecellio), faz parte de uma série de pinturas criadas para Alfonso d'Este, duque de Ferrara. Ticiano foi o mais importante pintor da Renascença veneziana; depois da morte de seu mestre Giovanni Bellini, em 1516, ele dominou a arte veneziana durante os 60 anos seguintes e se tornou o artista mais famoso da Europa. Alfonso d'Este encomendou BACO E ARIADNE para seu palácio em Ferrara, no norte da Itália. Esta obra mostra o momento em que Baco, o deus do vinho, encontra Ariadne, filha do rei de Creta. Depois de ajudar seu namorado Teseu a escapar do labirinto do Minotauro, Ariadne foi abandonada na ilha de Naxos. É quando entra Baco, numa carruagem puxada por dois guepardos, com sua multicolorida multidão de seguidores bêbados. Baco é mostrado num semissalto enquanto seus olhos se fixam em sua futura noiva. Inicialmente assustada com o aparecimento de Baco, o rosto de Ariadne exibe uma mistura de medo e intersse quando seus olhos se encontram. Embora seu rosto esteja voltado para Baco, o corpo está afastado dele e o braço está estendido para o navio que parte e para o mante que a abandonara. Numa demonstração de cor, movimento e imaginação, Ticiano dá vida à pintura de um mode sem precedentes. Tem muita gente que confundi o deus nessa imagem e acha que o Baco é o homem moreno envolvido por serpentes. Isso porque muitas vezes a televisão e o cinema retratam Baco ou Dionísio, seu outro nome, com a aparência de um homem moreno e de barba e muitas vezes chifres. Essa confusão começou a ser gerada quando o catolicismo foi expulsando os deuses antigos da mente dos fiéis. O culto de Baco era um dos cultos pagãos mais devassos com sexo, bebida e música por isso ele sofreu mais com a perseguição da igreja a ponto de sua imagem ir se mesclando um pouco com a do Diabo. Se você acha que nós brasileiros não temos nada a ver com esta cultura européia saiba que as festas de Baco chegaram às terras tupiniquins e foram bem populares em Pernambuco antes de finalmente a Igreja conseguir exterminar esse péssimo hábito. O homem que aqui aparece com as serpentes é uma referência à clássica LAOCOONTE E SEUS FILHOS,
redescoberta em Roma em 1506. Laocoonte alertou os troianos em vão para que não aceitassem o cavalo de madeira de presente dos gregos. Posteriormente, foi estrangulado por serpentes marinhas enviadas pela deusa Minerva.
Se você já ouviu o ditado "Estar na hora errada no lugar errado" com certeza, já conhece um pouco da vida de Acteão. O jovem príncipe tropeçou, durante uma caçada, na deusa Diana, a caçadora virgem e símbolo da castidade (identificada no quadro por sua crescente), que estava tomando banho com suas ninfas numa gruta remota da floresta. Indignada com Acteão por ele ter vislumbrado sua nudez divina, Diana o transformou em um veado e assim metamorfoseado ele acabou sendo morto por seus próprios cães de caça. Cores suntuosas, movimentos cativantes e uma composição harmoniosa marcam esta obra-prima de Tiziano (Italia 1488 -1576). A capacidade imaginativa de Tiziano chegou ao auge nas interpretações que ele fazia de lendas antigas e mitos clássicos durante os anos 1550, por instigação de Filipe II da Espanha, seu principal patrono. Tiziano foi o maior pintor veneziano. Em seus últimos anos, seu estilo se desenvolveu de maneira muito livre, quase antecipando a obra dos impressionistas quanto à maneira de lidar com as cores, com a luz e quanto à desenvoltura das formas.
Cercado por um conjunto heterogêneo de animais e pássaros da flores, que são atraídos pelo encanto irresistível de sua música, Orfeu aparece reclinado, numa clareira rochosa, perto de um rio. Está tocando um violino, cujos tons melosos hipnotizam o aglomerado colorido de criatura exóticas. Roelandt Savery (Belgica 1576 - Países Baixos 1639) deliciava-se com paisagens ricamente detalhadas, luxuriantes e decorativas, com grande variedade de fauna e flora. Embora fantástica e idealizada, bem dentro da tradição maneirista, a topografia dessas paisagens baseia-se de fato no cenário alpino que Savery viu ao viajar pela Suíça no início dos anos 1600. Ele fez dúzias de quadros de Orfeu e do Jardim do Paraíso, que lhe deram oportunidade de representar seus temas favoritos em mundos mágicos. Suas pinturas animadas e ricas em detalhes, cheias de incidentes, mostram a influência de Jan Bruegel.
Mercúrio, com seu manto esvoaçante, levou três deusas a Páris. Elas são Juno, com um pavão, Vênus, com Cupido, e Minerva, com seu elmo e escudo com uma cabeça de Górgone. Adornadas com jóias e pouca coisa mais, as mulheres estão diante de Páris, que segura o pomo de ouro com que presenteará a mais bonita das três. Pode-se dizer que esta é a cena original que teria dado início à famosa Guerra de Tróia. Na lenda, as deusas tentaram subornar Páris, cada uma oferecendo uma graça, mas a oferta de Vênus, de presenteá-lo com a mais bela das mulheres, acabou por fazê-la vitoriosa. Infelizmente a tal mulher mais bela era Helena de Tróia, já casada com um homem muito belicoso que entrou em guerra com Troia assim que sua esposa foi sequestrada. Por isso, hoje em dia, existe a expressão "pomo da discórdia" se referindo a este pomo de ouro que premiou a mais bela das deusas. Sir Peter Paul Rubens (Alemanha 1577 - Bélgica 1640) apresentou este tema mitológico dos mais conhecidos com a verve e a grandiosidade típicas do estilo barroco, de que foi um dos pioneiros. Cores suntuosas e pinceladas sinuosas foram utilizadas para evocar as ricas e sensuais figuras femininas. Em 1630, Rubens casou-se com Hélène Fourment, de 16 anos de idade. Depois disso, seu estilo tornou-se imbuído de lírica ternura (o que o amor não faz). Para conseguí-lo Rubens utilizava cores ricas, inspirado nos mestres venezianos Tiziano e Veronese. As pinceladas fluidas de Rubens, suas cores açucaradas e a riqueza emocional de suas composições contribuíram para sua reputação de maior pintor do Barroco ao norte dos Alpes.
Nesta cena da mitologia grega, Polifemo, o gigante ciclope, espiona a ninfa nua Galatéia, por quem está perdidamente apaixonado. O imenso olho do gigante volta-se desejoso para o objeto de sua devoção.
O CICLOPE
Mais horripilante do que o tratamento um tanto romântico dado ao mesmo tema por Gustave Moreau
GALATEIA por GUSTAVE MOREAU
A interpretação de Redon (França 1840 - 1916) tem uma característica aterradora de pesadelo. Coerente com as teorias simbolistas, Redon estava mais interessado em explorar a psique do que em representar a realidade de maneira direta. Seu objetivo era encontrar uma forma de expressão artística que inspirasse a introspecção e a reflexão do espectador. Sua crença em uma visão interna mágica levou-o à criação de pinturas e litografias imaginativas, com temas fantásticos representando fragmentos de sonhos.
HOMEM CACTO
ARANHA CHORANDO
Redon também produziu paisagens de colorido vibrante e pinturas de flores.
BUDHA OFÉLIA
Sua obra teve muita influência sobre o trabalho de um grupo de simbolistas mais jovens, que se autodenominavam Nabis. Mas isso já é outra história.
Dafne, uma ninfa, é representada em vias de se transformar num loureiro para escapar de Apolo que apaixonado por ela, passou a usar o louro em sua memória. Esta pequena cena é pintada com delicadeza, à maneira de uma jóia. Pinturas mitológicas dessa dimensão com frequência adornavam arcas ou armários na Florença renascentista, mas não se sabe se esta chegou a ser instalada em algum móvel. Antonio Pollaiuolo (Florença 1432/1498) e seu irmão Piero foram importantes ourives, escultores e pintores florentinos, que executaram encomendas para a cidade de Florença e sua catedral e para importantes famílias locais, como os Medici. Antono também é famoso por suas gravuras, especialmente a
BATALHA DOS NUS
em que explorou a forma humana em várias posições. Fascinado por anatomia, foi um dos primeiros artistas a seccionar o corpo humano para compreender seu funcionamento de estruturas internas.
Cristas de ondas fantásticas e encrespadas ecoam o horror do monstro atacando Andrômeda, acorrentada a uma rocha. Correndo para resgatar seu verdadeiro amor, Perseu é representado primeiro voando ao encontro da cena, vindo da direita, e depois sobre as costas do monstro, prestes a matar a fera. Temas da mitologia clássica eram apreciados na Renascença, pois significavam que o proprietário conhecia os textos antigos, em voga na época. Esta obra faz parte de uma série que em outros tempos esteve no palácio da família Strozzi, em Florença. Piero di Cosimo (Italia 1461-1521) frequentemente representava seus temas de maneira bizarra, o que provocava rumores a respeito da excentricidade de seu próprio comportamento. Viveu como eremita durante muito tempo, e dizia-se que só comia ovos duros - história bastante inverossímil. Também trabalhava fazendo desenhos para máscaras, festivais e procissões.
Uma ninfa nua e sensual está languidamente sentada numa gruta exótica, fantasticamente decorada com uma profusão de anêmonas, corais e outros elementos da flora mineral. É observada por um estranho monstro de três olhos. Este quadro baseia-se numa história da mitologia grega, que fala do amor não correspondido do ciclope Polifemo pela nereida Galatéia. As miríades multicoloridas de flores aquáticas e a suavidade da execução conferem à pintura uma característica mágica e onírica. Gustave Moreau (França 1826-1898) estava associado ao movimento simbolista, cujos pintores se afastavam do naturalismo objetivo dos impressionistas. Preferiam buscar inspiração numa síntese imaginativa de fontes literárias e mitológicas. Como neste quadro, eles utilizavam a cor e a forma para conferir a suas obras um significado mais expressivo do que descritivo. Moreau também fez inúmeras aquarelas, altamente apreciadas por seus contemporâneos.
Uma deusa sensual, com pele de porcelana, contempla seu reflexo enquanto se prepara para o banho. Os suaves brancos, amarelos e tons de pele criam uma sensação de calma, enquanto seu corpo esguio é acentuado pela coluna jônica atrás dela e pela forma longa e estreita da tela. As pinceladas invisíveis são lisas e polidas como a superfície da água. Lord Frederic Leighton (Inglaterra 1830-1896) que estudou pintura na Europa, foi líder do Classicismo britânico, sendo seu estilo e sua escolha de temas profundamente influenciados pelas estátuas e pela mitologia da Antiguidade, em oposição direta ao Medievalismo e aos pré-rafaelitas. Teve sucesso imediato quando seu primeiro quadro foi adquirido pela rainha Vitória. Suas pinturas tornaram-se muito populares por meio das reproduções produzidas em massa, e ele também foi um excelente escultor. Mais tarde, Lord Leighton foi eleito presidente da Royal Academy de Londres.
Todas as noites Leandro atravessava o mar para encontrar sua amante Hero, uma sacerdotisa de Afrodite. Ela o orientava carregando uma tocha acesa. Certa noite, durante uma tempestade, Leandro se afogou. A pesarosa Hero jogou-se de uma torre. Aqui, os dois amantes mortos são representados em seu trágico abraço derradeiro, já sem vida. Os tons de sua pele reluzente e sensual constrastam com um mar sombrio e as nuvens carregadas. Os cabelos e as vestes de Hero parecem imergir em sombras escuras. A imaginação de William Etty (Inglaterra 1787-1849) se inspirava numa obsessão pelo nu, que ele estudou e pintou ao longo de toda a sua carreira. Seus quadros muitas vezes evocam as poses sensuais e o colorido rico de Tiziano e Peter Paul Rubens. Etty frequentemente empregava a mitologia e a alegoria clássicas como meio de expressão. Suas obras eram particularmente admiradas por Eugène Delacroix e outros pintores do Romantismo.
Vênus é, de longe, a deusa mais retratada nas artes plásticas. Neste quadro temos uma cidade enluarada onde Vênus dorme vigiada por um esqueleto e uma manequim de costureira. Ela está deitada com as pernas abertas, sonhando com a sedução da Morte. Talvez seja a combinação da jovem beleza feminina e da morte, do desejo e do horror, que torne este quadro tão perturbador. Era característico dos surrealistas como Paul Delvaux (Bélgica 1897-1994) representar imagens estranhas, frequentemente belas, inspiradas por sonhos e pelo inconsciente. Delvaux chegou tardiamente ao Surrealismo, tendo antes feito experiências com o Impressionismo e o Expressionismo. Era conhecido nos círculos artísticos em voga depois da Segunda Guerra Mundial, quando o Surrealismo estava em seu apogeu. Delvaux visitou a Itália em 1939 e ficou profundamente impressionado com a arquitetura romana. É conhecido por suas imagens oníricas de jovens belas, com frequencia nuas, geralmente tendo como fundo construções meticulosamente retratadas.