"Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente"
Érico Veríssimo em Olhai os Lírios do Campo
Os primeiros a falar em felicidade foram os antigos gregos, no século VII antes de Cristo. Desde então, a maneira de defini-la mudou muito.
TALES DE MILETO (624-545 a. C.), um dos primeiros filósofos gregos, não distinguia a felicidade do prazer sensual e da saúde física. Feliz, para ele, é "aquele que tem o corpo sadio, forte, e uma alma bem formada".
Para PLATÃO (427-347 a.C.), porém, a felicidade está relacionada com a virtude, e não com o prazer. Na sociedade grega da época, virtuoso era quem seguia os preceitos da moral e cumpria seus deveres. ARISTÓTELES (384-322 a.C.) identificou vários graus de felicidade e atribuiu o valor máximo à sabedoria.
Um dos maiores filósofos cristãos da Idade Média, o italiano SANTO TOMÁS DE AQUINO (1228-1274), definiu a felicidade como "beatitude", a comunhão total com Deus. Ela não tem, portanto, qualquer relação com os bens terrenos e só pode ser obtida com uma dádiva divina. A partir do Renascimento, a noção de felicidade voltou a ser vinculada ao prazer, como era na Grécia antes de Platão.
O inglês JOHN LOCKE (1632-1704) afirmou que a felicidade "é o maior prazer de que somos capazes, e a infelicidade a maior pena". O alemão GOTTFRIED WILHELM LEIBNIZ (1646-1716) concordava, e a definiu como "um prazer durável, o que não pode acontecer sem um progresso contínuo em direção a novos prazeres". Com a escola utilitarista, a ideia ganhou um cunho social. O inglês JEREMY BENTHAM (1748-1832) tornou célebre sua fórmula segundo a qual "o objetivo correto de qualquer ação é o de produzir a maior felicidade para o maior número de indivíduos". Para o seu compatriota JOHN STUART MILL (1806-1973), a felicidade depende de circunstâncias objetivas e, por isso, só pode ser obtida pelo homem enquanto membro da sociedade.
Já o alemão IMMANUEL KANT (1724-1804) a via como uma meta inatingível, já que depende da realização de todas as necessidades, inclinações e desejos do homem. Também o alemão, ARTHUR SCHOPENHAUER (1788-1860) era ainda mais pessimista. Para ele, o que existe é apenas a ausência de dor ou de privação, à qual se seguirá, infalivelmente, um novo sofrimento.
A filosofia do século XX dá pouca importância ao assunto. O francês JEAN-PAUL SARTRE (1905-1980) se interessava mais pela angústia, apontada como uma consequência inevitável do fato de o homem ser livre para fazer suas próprias escolhas. Em compensação, a felicidade se tornou um dos temas prioritários na obra do austríaco SIGMUND FREUD (1856-1939), o fundador da Psicanálise. Segundo Freud, "o conjunto da nossa atividade psíquica tem por objetivo nos proporcionar o prazer e fazer-nos evitar o desprazer."
Trecho tirado da revista Superinteressante Maio 1999 escrito por Mariana Fernanda Vomero.
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