O tema da arte religiosa hindu é o Universo, e seu objetivo é unir os mundos material e espiritual. Os hindus acreditam que suas imagens sacras carregam um espírito que permeia a forma, mas que ele próprio é amorfo, por isso reverenciam uma essência espiritual inerente à imagem, superior à sua forma externa terrena. Os icones podem ser intencionalmente escurecidos com fumaça ou escondidos por roupas, ainda que, paradoxalmente, as escrituras sugiram que é a beleza da forma e da fisioniomia da imagem que atrai a divindade que a habita.
O devoto hindu ganha prestígio espiritual por meio do darshan (numa tradução literal, o gesto de ver ou estar na presença de uma imagem sagrada). Ao contemplar a imagem de um deus, esteja ela visível ou não, o espectador recebe um pouco do poder da divindade. Os hindus também acreditam que há uma relação entre a caridade e o mérito espiritual, e os fiéis prometem fazer doações para a divindade ou um templo no caso de o deus realizar seus desejos.
Do século IV ao século XII, a escultura em templos e a iconografia exerceram um papel fundamental na devoção ortodoxa hindu. A arte hindu tem uma estética que envolve a comunicação do bhava (humor), da beleza e do rasa (gosto), e as imagens sacras hindus têm uma linguagem que inclui formas humanas, símbolos e uma tendência à multiplicidade. As paredes externas das construções, como o Templo Kandariya Mahadeva, iniciado pelo rei chandela Vidyadhara (reinou de 1017 a 1029), são cobertas com entalhes exuberantes e às vezes eróticas representações de divindades e suas companheiras. Sacerdotes hindus, por meio de complexos rituais de consagração e devoção diária, mantêm a presença espiritual no templo e nas imagens. Além de criar obras de arte destinadas aos templos, os artistas hindus produziam uma incrível variedade de objetos, como rosários de contas, kolams, ou diagramas, e artefatos para relicários em vilarejos ou à beira da estrada.
A fé hindu está centrada na relação íntima com um deus ou deusa, escolhidos entre várias divindades distintas. No hinduísmo, Ishvar é um dos vários nomes atribuídos a Deus, mas essa divindade única, invisível, transcendente e poderosa é remota e impessoal demais para a representação artística. Em vez de Ishvar, os hindus retratam a Trimurti (trindade) dos principais deuses:
Vishnu, o mantenedor ou protetor; Shiva, o destruidor ou transformador; e Brahma, o criador. O deus Vishnu, responsável por manter a ordem no Universo, é retratado como um rei coroado e segura um emblema em cada um de seus quatro braços: a concha (que representa o som primordial), o disco (que o associa ao Sol e seu poder real), a flor de lótus (que simboliza a florescência do Universo) e o bastão (que expressa a autoridade real). A quantidade de encarnações de Vishnu varia de acordo com as escrituras; o Bhagavata Purana (século IX ou X) cita 22 encarnações.
Shiva, a segunda divindade Trimurti, manifesta-se de várias formas, entre elas Dakshinamurti (professor), Bhiksata (mendigo), Bhairava (sua forma mais violenta e destrutiva) e Shiva Nataraja.
O terceiro deus, Brahma, embora retratado com menos frequência, tem quatro cabeças e quatro braços; ele segura rosários de contas, uma vasilha e um jarro de água.
Deusas são adoradas pelos hindus e retratadas frequentemente na arte hindu. Cada deus tem uma ou mais esposas, sendo que as esposas de Vishnu são as deusas Lakshmi e Bhudevi. Ainda mais populares são as divindades femininas independentes e mais ambivalentees, entre elas as esposas de Shiva, Kali e Durga.
Kali é conhecida por sua língua comprida, seu colar de crânios, corpo escuro e dentes de vampiro. Apesar de sua assustadora aparência, ela é reverenciada como uma grande protetora. No hinduísmo, o poder inerente e a presença de uma divindade são mais importantes do que sua aparência externa repulsiva.
Cada divindade hindu possui um meio de transporte. O de Vishnu é Garuda, uma criatura metade homem, metade águia, associada ao movimento do Sol no céu. Representações de tais veículos aparecem tanto na arte quanto na arquitetura hindus.
O Templo do Sol Konark, em Orissa, na Índia, construído no século XIII pelo rei Narasimhadeva (1236-1264), da dinastia Gangan Oriental, foi desenhado com a forma de uma gigantesca carruagem com 7 cavalos e 24 rodas (representando as horas do dia). Acreditava-se que essa carruagem transportasse o deus do Sol, Surya, pelos céus. Cada roda intrincadamente entalhada tem oito raios; cada raio representa uma prahar (período de três horas). Assim, cada roda representa um dia.
A arte sacra hindu tenta ver o invisível e transcender a realidade de Deus. Ela atribui uma alma a todos os objetos da vida cotidiana, envolvendo-os com uma sensação milagrosa e uma relação extremamente sofisticada entre formas e ideias. O hinduísmo, e por consequência sua arte, é flexível e impressionante.
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