segunda-feira, 2 de abril de 2012

RUDOLPH TÖPFFER

Rudolph Töpffer (1799-1846) é um dos mais importantes ilustradores do mundo, tendo seu nome ligado aos de Hogarth, Doré, Busch e Cristophe, como um dos precursores da história de imagens, e tendo sido elogiado por Goethe. Em 1816, um rico armador inglês acompanhou o pintor suíço Wolfgang Adam Töpffer, o pai, na Inglaterra, onde encontoru e levou para a Suíça o gosto pelas gravuras. Com efeito, nos anos seguintes, publicou diversas pranchas em que se podiam ver camponeses e vilarejos numa cidadezinha qualquer, parados, observando uma loja de venda de estampas. Gérard Blanchard escreve que essa cena, à exceção de alguns detalhes folclóricos, poderia se passar em Londres, Paris ou Genebra. O escritor e artista suiço, de língua francesa, Rudolph Töpfer, o filho, tinha dezoito anos na ocasião e ficou vivamente maravilhado com as estampas inglesas, especialmente as de Willian Hogarth (1697 - 1764), entre elas Harlot's Progress. 


E Rudolph escreve: "No século passado, um homem de gênio, Hogarth, grande artista, mas sobretudo grande moralista, publica diversas séries de gravuras formando dramas completos..." Nota que, num discurso em que se vê a fisionomia e os gestos, esses importam mais do que o que é falado, e acrescenta: "Portanto, é próprio das estampas reunir, num alto nível, estas diversas condições de ação, de reduzir toda proposição em imagens de vida, de transformar todo raciocínio em espetáculo animado, distinto, luminoso; de reunir todos os elementos com uma eloquência simples, grosseira, mais apropriadamente maravilhosa à natureza e ao lazer dos espíritos brutos e sem cultura".

 Rudolph pretendia ser pintor, como seu pai, mas seus problemas de visão assim não o permitiram. Depois de estudar em Paris, lecionou em diversas escolas em Genebra e era titular de retórica na Academia de Belas Letras. Töpffer, o filho, ficara famoso como escritor com trabalhos fascinantes como La Biblioteque de Mon Oncle, 1832, e Le Presbytère, 1839-46, ambos reminiscências de sua infância e juventude, e Voyages en Zigzag, 1845, uma descrição com suas próprias ilustrações, de viagens pela encostas das montanhas suíças. Seus contos, reunidos em 1841 numa antologia intitulada Nouvelles Genevoises, lhe trouxeram muitas críticas favoráveis e prestígio pessoal. 
 Sendo um literato de sucesso (em quem Xavier de Maistre via seu sucessor), dedicou-se a meia dúzia de histórias em imagens, posteriormente publicadas sob o título de Histoires en Estampes, em 1846-47. Esse trabalho foi feito nos intervalos de sua profissão de pedagogo, despretensiosamente. Mas lhe valeram os elogios de Goethe. O ilustre alemão escreveu, com efeito, que em Töpffer "... é preciso admirar os motivos múltiplos que sabe expor em poucas figuras... Ele humilha o inventor mais fértil em combinações e podemos felicitar seu talento nato, alegre e sempre disposto". Goethe amou um dos primeiros trabalhos, pequenos álbuns que ele lia de dez em dez páginas, "para não ter uma indigestão de idéias".
 Töpffer, no seu Annonce de l'Histoire de M. Jabot, em 1837, afirmava ser seu livrinho de natureza mista. "Ele se compõe de uma série de desenhos autografados em traço. Cada um destes desenhos é acompanhado de uma ou duas linhas de texto. Os desenhos, sem este texto, teriam um significado obscuro, o texto, sem o desenho, nada significaria. O todo, junto, forma uma espécie de romance, um livro que, falando diretamente aos olhos, se exprime pela representação, não pela narrativa. Aqui, como um conceito fácil, os tratamentos de observação, o cômico, o espírito, residem mais no esboço propriamente dito, do que na idéia que o croqui desenvolve". 
 Ele explicava a gênese dos personagens como nascidos à sorte dos rabiscos, no papel, para quebrar o tédio, na confusão das linhas, descobrindo uma cabeça, um personagem. (Da mesma forma que Victor Hugo utilizava a sorte para tirar de seu escrito suas figuras fantásticas. Já Honoré de Balzac desenhava seus personagens, para depois descrevê-los literariamente). Ele vai mais longe, imaginando o nome, a idade, as preocupações, os pais, a família e... "toda uma epopéia saída bem menos de uma idéia preconcebida que deste tipo nascido de sua própria sorte". Todos os heróis de Töpffer estão à procura de algo aparentemente simples, mas que acaba provocando catástrofes: é o objeto amado por M. Vieuxbois (1827), o cometa do Dr. Festus (1829), a liberdade de caçar borboletas de M. Cryptogame (1830), o nascimento de M. Jabot (1831), um sistema educativo para crianças de M. Crépin (1837) ou um estado social para Albert (1844). Töpffer, com uma lógica demente, encadeia em desenhos as causas e os efeitos, o que dá ao seu trabalho um ritmo sôfrego, mecânico e impiedoso, que reduz os personagens a nada mais do que bonecos na vida cotidiana diante dos problemas comuns. 
Em 1840, Töpffer publicou simultaneamente duas versões de seu Dr. Festus. Depois de ter realizado com grande sucesso um trabalho em imagens, deu uma versão literária, uma espécie de tradução. Ele procurou o seu equivalente literário do humor gráfico num processo que deve muito aos humoristas ingleses, em particular a Lawrence Sterne (1713-1768), e imita as digressões de Tristan Shandy. Ao lado do contista convencional de Voyages en Zigzag e através de Surprenantes Absurdités, revelou-se um humorista que se aventurou por caminhos em que Lewis Carrol (1832-1898) será o mestre incontestável. 

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