segunda-feira, 30 de julho de 2012

O TEMPO E OS TEMPOS DA FOTOGRAFIA parte final

Breves considerações finais
Este texto chega ao seu desfecho cheio de lacunas, e não poderia ser diferente. Aos inúmeros fotógrafos não mencionados nos exíguos limites deste artigo pode-se acrescentar um sem número de movimentos artísticos que conspiraram para moldar o olhar contemporâneo. Só para citar um exemplo "nativo", vale registrar a fotografia construtiva, um trabalho experimental desenvolvido por José Oiticica Filho na década de 1950, que dialogou com o concretismo e o neoconcretismo tanto na literatura quanto nas artes plásticas brasileiras. 
Contudo, apesar das inevitáveis omissões, as páginas precedentes têm a pretensão de mostrar como a fotografia, ao longo da sua relativamente curta história, mudou a relação do homem com a cultura do seu tempo. Para tanto, a imagem fotográfica precisou dialogar indistintamente com cientistas e artistas, antes mesmo de se constituir enquanto linguagem autônoma. Depois, ao descobrir seu poder de síntese e a universalidade de sua mensagem, a fotografia ganhou projeção nas mídias globais que, de modo geral, se comunicam com um mundo cada vez mais apressado e propenso à informação fragmentária e telegráfica. E é precisamente aí que reside o principal desafio para o fotógrafo contemporâneo. Se a profissão passou a ser mais requisitada, em função da voracidade com que a cultura de massa exige imagens, o mesmo nível de exigência não se estendeu à formação cultural de quem fotografa.
Sabemos que a fotografia é, efetivamente, uma linguagem de gramática muito simples. Não raro, uma consulta aos manuais das câmeras fotográficas, aliada a uma prática embrionária, é suficiente para garantir os rudimentos da técnica fotográfica; em contrapartida, anos de estudo não são garantia para uma escrita refinada. Talvez isso explique o desdém com que, durante muito tempo, a profissão de fotógrafo foi tratada, transferindo à fotografia o papel de apêndice do texto. Sabemos também que está em curso uma reversão dessa tendência, decorrente da já mencionada valorização que a imagem vem recebendo no âmbito das novas mídias, mas não podemos perder de vista que o grande agente dessa transformação é o aprimoramento cultural do fotógrafo.
Da mesma forma que o domínio de um idioma não garante a um revisor o exercício pleno da literatura, podemos depreender que o diferencial do fotógrafo não é saber escrever com a luz, mas sim utilizar a narrativa fotográfica enquanto suporte para emitir a sua opinião sobre o mundo. Ao destacar os fotógrafos Henri Cartier-Bresson e Sebastião Salgado como referência para ilustrar a fotografia do século XX, o que se pretendeu foi realçar a interdependência entre a formação do fotógrafo e o valor da sua produção. Não parece obra do acaso que a erudição de ambos e a temática humanista, abordada com forte acento autoral, tenham sido responsáveis pela repercussão de seus trabalhos em preto-e-branco, diante de um mundo que caminha a passos largos para a emergência de uma nova estética fotográfica, marcada pela saturação cromática e pelos efeitos digitais. 

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