quinta-feira, 1 de julho de 2010

A ARTE NO EGITO

Pintura em túmulo no templo de Luxor, no Egito

A ARTE NO EGITO

Desenvolvida às margens do rio Nilo, na África, a civilização egípcia foi uma das mais importantes da Antiguidade. De organização social bastante complexa e riquíssima em realizações culturais, produziu também uma escrita bem estruturada, graças à qual podemos, hoje, conhecer muitos detalhes dessa civilização.
A expressão artística egípcia refletiu com profundidade cada momento histórico dessa civilização. Nos três períodos em que se costuma dividir sua história - o Antigo Império, o Médio Império e o Novo Império -, o Egito conheceu um significativo desenvolvimento, em que a arte teve papel de destaque.
Entre todos os aspectos de sua cultura, porém, talvez a religião seja o mais relevante. Tudo no Egito era orientado por ela. Para os egípcios, eram as práticas rituais que asseguravam a felicidade nesta vida e a existência depois da morte. A religião, portanto, permeava toda a vida egípcia, interpretando o Universo, justificando a organização social e política, determinando o papel das classes sociais e, conseqüentemente, orientando toda a produção artística.
Uma arte dedicada à vida depois da morte
A arte desenvolvida pela cultura egípcia refletiu suas crenças fundamentais. Segundo essas crenças, a vida humana podia sofrer interferência dos deuses. Além disso, a vida após a morte era considerada mais importante do que a existência terrana. Assim, desde seu início a arte egípcia concretizou-se nos túmulos e nos objetos, como estatuetas e vasos deixados junto aos mortos. Também a arquitetura egípcia realizou-se sobretudo nas tumbas e nas construções mortuárias.
As tumbas dos primeiros faraós eram réplicas da casa em que moraram. Já as pessoas sem posição social de destaque eram sepultadas em construções retangulares muito simples, as mastabas, que deram origem às grandes pirâmides, que viriam a ser construídas mais tarde.

Visão geral da mastaba, túmulo egípcio que deu origem às pirâmides.


A palavra mastaba provém do termo árabe maabba, que significa "banco", pois à distância esse tipo de túmulo lembra um banco de pedra ou lama. As mastabas podima ser construídas com pedra calcária ou tijolo de barro (adobe). A câmara mortuária, em geral, localizava-se bem abaixo da base, ligando-se a ela por uma passagem em forma de poço.

A IMPONÊNCIA DO PODER RELIGIOSO E POLÍTICO

O faraó Djoser, que deu início ao Antigo Império, exerceu o poder autoritariamente e transformou o Baixo Egito, com a capital em Mênfis, no centro mais importante do reino.

Desse período restaram importantes monumentos artísticos, erguidos para ostentara a grandiosidade e a imponência do poder político e religioso do faraó. A pirâmide de Djoser, por exemplo, foi construída pelo arquiteto Imotep na região de Sacará. Essa talvez seja a primeira construção egípcia de grandes proporções.




As obras arquitetônicas mais famosas, porém, são as pirâmides do deserto de Gizé, construídas por ordem de três importantes faraós do Antigo Império: Quéops, Quéfren e Miquerinos.

A maior dessas três pirâmides é a de Quéops: tem 146 metros de altura e ocupa uma área de 54300 metros quadrados. Esse monumento revela o domínio técnico da arquitetura egípcia: não foi utilizada nenhuma espécie de argamassa (mistura de areia e água com um aglutinante, como cal ou cimento, utilizada no assentamento de tijolos ou outros blocos de construção) entre os blocos de pedra que formam suas imensas paredes.

No Egito antigo eram também construídas esfinges, figuras fantásticas, por exemplo, com corpo de leão e cabeça humana, cuja finalidade era guardar os túmulos. Junto às pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos encontra-se a mais conhecida delas, a esfinge do faraó Quéfren. É outra obra gigantesca: tem 20 metros de altura e 74 metros de comprimento. Sua cabeça representa o faraó Quéfren, mas a ação erosiva do vento e das areias do deserto deu-lhe, ao longo dos séculos, um aspecto enigmático e misterioso.

UMA ARTE DE CONVENÇÕES

Como já foi dito, a arte egípcia estava intimamente ligada à religião, servindo de veículo para a difusão dos preceitos e das crenças religiosas. Por isso, obedecia a uma série de padrões e regras, o que limitava a criatividade ou a imaginação pessoal do artista. Assim, o artista egípcio criou uma arte anônima, pois a obra deveria revelar perfeito domínio das técnicas de execução, e não o estilo de quem a executava.

Entre as regaras seguidas pela pintura e nos baixos-relevos, destaca-se a lei da frontalidade, uma verdadeira marca egípcia. De acordo com ela,a arte não deveria apresentar uma reprodução naturalista, que sugerisse ilusão de realidade: pelo contrário, diante de uma figura humana retratada frontalmente, o observador deveria reconhecer claramente tratar-se de uma representação.

Na imagem ao lado, vêem-se as características determinadas pela lei da frontalidade: o tronco das figuras representadas de frente, enquanto a cabeça, as pernas e os pés vistos de perfil.

No antigo império, a escultura foi a manifestação artística que ganhou as mais belas representações. Embora também cheia de convenções, a escultura desenvolveu uma expressividade que surpreende o observador. Um bom exemplo é a conhecida imagem que mostra um escriba no exercício de sua função. Essa obra, encontrada em um sepulcro da necrópole de Sacará, representa bem a importância dada à escultura no Antigo Império: por meio dela, revelam-se dados particulares do retratado, como sua fisionomia, seus traços raciais e sua condição social. Trata-se de uma obra de autoria desconhecida, realizada entre 2620 e 2350 a.C., e que retrata, provavelmente, um escriba ou um príncipe. Essa dúvida é motivada pela qualidade da obra. Os cuidados com os detalhes não eram comumente dedicados pelos artistas na representação dos funcionários da burocracia do Império. A hipótese de que se trata de um escriba é reforçada pelos olhos fixos em um provável interlocutor e lábios cerrados do homem retratado, que, no momento, não está falando ou sorrindo, mas concentrado em ouvir para reproduzir por meio da escrita as palavras de quem lhe fala alguma coisa. As mãos completam a atitude de prontidão para a escrita.

Apesar da expressividade obtida na escultura do Antigo Império, no período seguinte, o Médio Império (2000 a 1750 a.C.) o convencionalismo e o conservadorismo das técnicas voltaram a produzir esculturas e retratos estereotipados (representações de acordo com o padrão fixo aceito como ideal e sem originalidade), que representavam a aparência ideal dos seres - principalmente dos reis - e não seu aspecto real.

O APOGEU DO PODER E DA ARTE

Foi no Novo Império (1580-1085 a. C.) que o Egito viveu o ponto alto de seu poderio e de sua cultura. Nesse período, os faraós reiniciaram as grandes construções, processo que havia sido interrompido por sucessivas crises políticas. Dessas construções, as mais conservadas são os templos de Luxor e Carnac, ambos dedicados ao deus Amon.



Construído por determinação de Amenófis III, por volta de 1380 a.C., o templo de luxor possui colunata composta de sete pares de colunas com cerca de 16 metros de altura. Esteticamente, seu aspecto mais importante é o novo tipo de coluna, com capitel (arremate superior) trabalhado com motivos tirados da natureza, como o papiro e a flor de lótus.

Entre os grandes monumentos funerários desse período, um dos mais importantes é o templo da rainha Hatshepsut, que reinou de 1511 a 1480 a. C. Essa construção imponente e harmoniosa deve sua beleza, em grande parte, à maneira como foi concebida: a montanha rochosa que lhe serve de fundo parece fazer parte do conjunto, o que cria uma profunda integração entre a arquitetura e o ambiente natural.

Na pintura do Novo Império surgiram criações artísticas mais leves e de cores mais variadas que as dos períodos anteriores. Abandonada a rigidez de postura das figuras, elas parecem ganhar movimento.

Tais alterações na expressão artística decorreram de mudanças políticas promovidas por Amenófis IV. Esse soberano neutralizou radicalmente o grande poder exercido pelos sacerdotes, que chegavam a dominar os próprios faraós. Com sua morte, porém, os sacerdotes retomaram o antigo poder e passaram novamente a dirigir o Egito ao lado de Tutancâmon, o novo faraó.

Tutancâmon, entretanto, viria a morrer com apenas 18 anos de idade. Em sua tumba, no Vale dos Reis, o pesquisador inglês Howard Carter encontrou, em 1922, um imenso tesouro.

O VALE DOS REIS

Localizado na margem ocidental do rio Nilo, próximo a Luxor, o Vale dos Reis iniciou sua tradição como grande necrópole quando o faraó Tutmés I, no Novo Império, decidiu que seu túmulo seria secretamente construído lá. O objetivo de Tutmés era que seus despojos ficassem a salvo dos saqueadores, que violavam os túmulos de reis e personalidades de destaque em busca dos tesouros lá guardados.

No vale, as tumbas eram construídas no interior da montanha, às vezes até 200 metros abaixo da superfície, com acesso por meio de escadas e corredores. Isso, porém, não as salvou da profanação. Ao longo de milênios, bandos organizados procuravam e encontravam os tesouros dos faraós. Por isso, quando os arqueólogos europeus do século XIX deram início a escavações no local, apenas encontraram tumbas saqueadas. Daí a descoberta da tumba de Tutancâmon em 1922, com seus tesouros ainda intactos, haver supreendido o mundo todo.

Hoje o Vale dos Mortos, descoberto recentemente, é um dos principais pontos turísticos do Egito. Encontram-se lá mais de sessenta tumbas, onde é possível apreciar belíssimas pinturas murais com cenas extraídas do Livro dos Mortos, que narra as alegrias e as tristezas da vida além da morte.

A pouco mais de um quilômetro dali fica o Vale das Rainhas, com cerca de oitenta tumbas, muitas delas destruídas.

Trono e sarcófago de ouro de Tutancâmon



O túmulo de Tutancâmon é uma grande construção formada por um salão de entrada, onde duas portas secretas dão acesso à chamada "câmara do tesouro" e à sala sepulcral. O tesouro era constituído por vasos, arcas, um rico trono, carruagens, esquifes e inúmeras peças de escultura, entre as quais duas estátuas de quase 2 metros, representando o jovem soberano.

Feito de madeira esculpida, esse trono é recoberto com uma lâmina de ouro e ornamentado com incrustrações multicoloridas de vidro, cerâmica esmaltada, prata e pedras. Trata-se de uma das obras mais esplêndidas do tesouro de Tutancâmon.
A múmia imperial estava protegida por três sarcófagos, um dentro do outro: um de madeira dourada, outro também de madeira, mas con incrustrações preciosas e, finalmente, o terceiro, em ouro maciço com aplicações de lápis-lazúli, coralinas e turquesas, e que guardava o corpo do faraó.

Os reis da dinastia que se seguiu ao reinado de Tutancâmon preocuparam-se em expandir o poderio político do Egito, o que foi conseguido por Ramsés II. Como consequência, toda a arte de seu reinado foi uma demonstração de poder. Isso pode ser observado, por exemplo, nas estátuas gigantescas e nas imensas colunas comemorativas dos feitos políticos desse soberano.
As quatro figuras que representavam o faraó na fachada do templo têm mais de 20 metros de altura. Não fosse por uma campanha internacional em sua defesa, a barragem de Assuã o teria deixado submerso pelas águas do Nilo. Em 1968, a parte escavada na rocha foi cortada em grandes blocos e transferida de local. Hoje, o templo repousa acima do nível das águas da represa.
Data também dessa época a utilização dos hieróglifos (unidade do sistema de escrita egípcio, de caráter figurativo, em que se representavam imagens de animais, objetos, etc.) como elemento estético. Com a intenção de deixar gravados para a posteridade os feitos de Ramsés II, eles começaram a ser esculpidos nas fachadas e colunas dos templos. Assim, passaram a fazer parte da ornamentação das obras arquitetônicas.

Após a morte de Ramsés II, o poder real tornou-se fraco e o Império passou a ser governado pelos sacerdotes. Com isso, houve uma estabilidade apenas aparente, e as ameaças de invasão acabaram tornando-se realidade. O Egito foi invadido sucessivamente por etíopes, persas, gregos e, finalmente, pelos romanos. Aos poucos, essas invasões foram desorganizando a sociedade egípcia e, conseqüentemente, sua arte: influenciada pela cultura dos povos invasores, ela foi perdendo suas características e refletindo a própria crise política do Império.
Templo de Abu-Simbell dedicado à deusa Hator na Baixa Núbia.












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