Exatamente no dia 5 de maio de 1895, um domingo, no jornal World, de Nova Iorque, surgiu o primeiro personagem fixo semanal, dando margem ao aparecimento das histórias em quadrinhos e, ao mesmo tempo, ao termo "jornalismo amarelo" (marrom no Brasil), para a imprensa sensacionalista, por causa do camisolão do Menino Amarelo.
Neste dia histórico, o artista Richard Fenton Outcault desenho dois painéis (charges), um em cor, outro em preto e branco, sob o título At the Circus in Hogan's Alley. Era um quadro a mais de crianças em favelas (becos). Desta feita, porém, no meio da petizada, havia um garoto de cabeça grande, orelhudo, de seis ou sete anos, com um camisolão sujo e, no quadro em cores, seu roupão era azul. Nas semanas seguintes, apareceu careca, num papel secundário, ou sequer surgia nos desenhos. A partir de 5 de janeiro de 1896, seu camisolão já é amarelo - dizem que a pedido do técnico de cores - e toma o primeiro plano. O próprio público começou a chamá-lo de The Yellow Kid, embora o autor jamais tivesse nomeado a figurinha. Por influência das charges políticas, seu camisolão tornou-se panfletário, portando frases e críticas do momento. Eram mensagens irreverentes, ligando com o outro painel desenhado. Sem balões.
O último desenho de Outcauld no World surgiu no dia 17 de maio de 1896, quando se transferiu - tal como em Cidadão Kane -, com toda a redação, para o jornal concorrente de Hearst, o Journal, de Nova Iorque. George B. Luks continou desenhando Hogan's Alley, mantendo o garoto amarelo no jornal de Pulitzer. Hearst, mais vivo, colocou o título do povão, The Yellow Kid, na sua tira e encorajou Outcault a usar desenhos progressivos na narrativa e a introduzir o balãozinho. Sintetizando o que os outros artistas já faziam no jornal colorido de Hearst, Outcault deu forma definitiva e continuada ao fenômeno que outros artistas fizeram no passado, propiciando assim nascimento à linguagem dos comics.
Mas o artista não estava satisfeito. Apesar de ganhar dinheiro, ele e a esposa se ressentiam dos ataques de grupos conservadores de "boas famílias", que criticavam a imprensa sensacionalista praticada por Hearst e Pulitzer, chamando-a de "jornalismo amarelo", exatamente por causa do camisolão do menino pobre dos guetos nova-iorquinos. O caso na Justiça entre os dois tycoons da imprensa, colocando em litígio os direitos do personagem, mais a decisão "salomônica" da Corte dando razão aos dois foram a gota d'água. Outcault deixou o Menino e afastou-se de Hearst, passando a trabalhar como free-lancer.
Tentou outras histórias, sem sucesso; O Menino Amarelo continuava, com outros artistas ou reprints. Uma das reedições dava a ideia do que viram a ser, no futuro, os gibis.
Outcault só conheceria o sucesso com Buster Brown/Chiquinho, que apesar de ter pior comportamento do que o Menino Amarelo, foi aceito por sua condição social melhor. As críticas eram por problemas sociais e não por motivos didáticos ou educacionais. Puro preconceito.
Desta feita, o autor se garantiu com os direitos autorais e, aliado ao filho, chegou a ter uma companhia em Chicago para explorar os negócios decorrentes.
No verão de 1928 ficou doente em sua casa e durante dez semanas teve complicações, até morrer no dia 25 de setembro do mesmo ano, com sessenta e cinco anos de idade.
Deixou para a posteridade um mundo infinito de outros personagens, amarelos, azuis, vermelhos (ou browns, marrons), negros, índios, pobres e ricos, meninos, garotos, astronautas, bichinhos, cachorros (como Tige) e mulheres, todos habitantes desse universo rico, imaginativo, colorido, infinito que é o habitat das histórias em quadrinhos da Terra e cercanias.
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