domingo, 22 de julho de 2012

ESCREVER... GERANDO APELO DE LEITURA


Prosseguindo do último texto, já teremos, se não um argumento, ao menos uma lista daquilo que gostamos. Como meus grupos geralmente são compostos de adolescentes, é um fato que pelo menos Futebol, Comida ou Dormir irá aparecer nessa lista. É, essa é uma geração meio acomodada. Rs. Então, pegando esse exemplo, o argumento pode ser simplesmente a história de um jogador preguiçoso que se vê diante do drama de perder o emprego porque engordou demais. Algo trivial. Como trabalhamos lá na oficina com Desenho Animado estamos mais abertos a criações mais malucas como uma bola de futebol que gosta de dormir e que quando é abusada pelos jogadores os devora. Um tipo de bola monstro. A literatura possui a mesma flexibilidade ilimitada do desenho animado já que não depende de conhecimentos técnicos mais apurados para se tornar viável como é o caso do cinema, então, não tenha medo de escrever argumentos loucos. Pode ser que desse exercício surja uma ideia genial e divertida. 
Tendo o argumento vamos discutir um pouco sobre o apelo. É um fato que a venda de um produto - e o seu livro, por menos interessante que este título pareça, é um produto - precisa encontrar-se com uma necessidade presente no público alvo. Por mais criativos e evoluídos que possamos parecer, a humanidade, como todo animal, guarda uma gamas de comportamentos que são propulsionados por seus instintos. O fato de muita gente não se dar conta de sua condição de grande primata com alguma inteligência (ultimamente estou em dúvida quanto a esta última) é o que facilita a vida dos comunicadores em massa (políticos e propagandistas, entre outros). 
Estes nossos comportamentos instintivos podem ser divididos em três eixos principais. Verifique em qual desses eixos eu argumento se encaixa predominantemente e tente criar um link, como se fosse um subtema, para os outros dois. Com certeza, você estará aumentando a potencialidade de sua história agradar, apesar de que outras coisas podem influenciar no meio do caminho.
Os três eixos são: reprodução, sobrevivência e curiosidade.
Reprodução envolve todos os gamas de relacionamento humanos como o já extremamente popular sexo, romance, nudez, moda, etc (tudo aquilo que de uma forma ou de outra acaba servindo para seduzir o outro direta o ou indiretamente). Dentro deste eixo, você pode trabalhar tanto os temas de reprodução aceitos (o mais usado e, por isso mesmo, o que corre mais risco de gerar o "clichê", histórias que todo mundo consegue prever qual o final como acontece com algumas novelas e geralmente não é uma boa ideia quando se fala de livros) como os tabus, como por exemplo, pedofilia, sadismo, masoquismo, homossexualismo (histórias de risco que podem ser o propulsor de um grande sucesso ou cair na contramão e gerar o mais completo repúdio). 
Sobrevivência é um dos mais abrangentes pois geralmente está presente nas relações de poder que estabelecemos em nosso meio e também nas formas de suprir o corpo daquilo que é necessário para a sua sobrevivência. Então, relações onde existe um subordinado, onde o outro tem mais posses e por isso mais poder, onde existe o mais forte, o mais inteligente, ou seja, onde existe um mais apto para exercer a liderança em algum aspecto são estruturas frequentes em qualquer história. Conforme a humanidade foi evoluindo em suas narrativas universais, o mais forte não significa o mais perfeito indo justamente na contramão dessa ideia, que que os protagonistas geralmente possuem um grupo de defeitos e apesar disso, ainda permanecessem como o "Alfa" em algum aspecto de sua vida. Relações com coisas que podem nos matar como comida, drogas, manias, rotinas também fazem parte desse eixo.
Curiosidade é o eixo que trabalha os grandes mistérios e as grandes questões humanas que, geralmente, podem ser resumidas ao batido "de onde vim" e "pra onde vou". Questões relacionadas ao nascimento, à morte, à questões que não encontram explicação viável dentro da ciência, como a religião, a coincidência, a sorte, o destino, se encaixam dentro deste que é o eixo mais difícil de trabalhar já que também está ligado à cultura do público alvo. 
Então vamos pegar um exemplo bem básico. As propagandas de cerveja. As estruturas de propaganda de cerveja, no Brasil, geralmente estão pautadas em Reprodução e Sobrevivência e eventualmente, em alguns momentos, esbarram no eixo curiosidade. O que se vende na cerveja é o fato de, com ela, você se tornar uma pessoa mais interessante e ter acesso fácil aos relacionamentos; você sempre está em uma situação de poder privilegiada já que todos os outros mortais estão se matando trabalhando enquanto os protagonistas estão em uma bela praia. Nesta propaganda específica, a curiosidade surge como a "invisibilidade", algo almejado porém ainda não obtido por nossa ciência apesar de estar presente em nosso imaginário desde quando Hades recebeu dos Cíclopes o seu elmo de invisibilidade, lá nos primórdios da mitologia grega.   
Pense então, quando tiver o seu argumento, qual é o eixo central e como você consegue fazer os links com os outros dois subeixos. Provavelmente isso aumenta as chances de sua história agradar a um público maior pois os eixos nada mais são do que slots onde as pessoas tentam encaixar suas perspectivas de vida para encontrar um padrão de normalidade, pois "ser normal e aceito" é algo que está culturalmente arraigado dentro de nosso processo civilizatório. 

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