hece-te a ti mesmo" platônico se inspiraram nele. Na Alemanha chamaram-no Doppelganger; na Escócia, fetch, porque vem buscar (fetch) os homens para levá-los para a morte. Encontrar-se consigo mesmo é, por conseguinte, funesto; a trágica balada Ticonderoga, de Robert Louis Stevenson, fala de uma lenda sobre esse tema. Rercordemos também o estranho quadro How They Met Themselves, de Rossetti; dois amantes se encontram consigo mesmos no crepúsculo de um bosque. Seria o caso de citar exemplos análogos de Hawthorne, Dostoiévski e Alfred de Musset.Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo,
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe porque o escreveu.
Fernando Pessoa
Todas as máscaras da vida
se debruçam para o meu rosto,
na alta noite desprotegida
em que experimento o meu gosto.
Cecília Meireles
Há noites em que, apenas iluminada pelo luar, olho fixamente o meu rosto no espelho. Surge-me então um espectro, de faces chupadas e olhos desmesuradamente grandes onde se lêem mágoas, angústias, desesperos, raivas e medos acumulados durante trinta e seis anos. Estendo-lhe a mão e…
O retrato de Dorian Gray
E no cinema o maravilhoso A DUPLA VIDA DE VERONICA de Krzysztof Kieslowski
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