domingo, 21 de novembro de 2010

A ARTE BIZANTINA

Bizâncio era uma antiga colônia grega localizada entre a Europa e a Ásia, no estreito de Bósforo. Nesse local, no ano 330, o imperador Constantino fundou a cidade de Constantinopla, que, graças à localização geográfica privilegiada, viria a ser palco de uma verdadeira síntese das culturas greco-romana e oriental. O termo bizantino, portanto, deriva de Bizâncio e designa a criação cultural não só de Constantinopla, mas de todo o Império Romano do Oriente.

O Império Romano do Ocidente, cuja capital era Roma, sofreu sucessivas invasões até cair completamente em poder dos bárbaros, no ano 476. Essa data marca o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média.

O Império Bizantino - como acabou sendo denominado o Império Romano do Oriente - alcançou seu apogeu político e cultural durante o governo do imperador Justiniano, que reinou de 527 a 565. Apesar das contínuas crises políticas, manteve-se a unidade do Império até 1453, quando os turcos tomaram sua capital, Constantinopla, dando início a um novo período histórico: a Idade Moderna.

UMA ARTE QUE EXPRESSA RIQUEZA E PODER

O momento de esplendor da capital do Império Bizantino coincidiu historicamente com a oficialização do cristianismo. A partir daí, a arte cristã primitiva, que era popular e simples, foi substituída por uma arte cristã de caráter majestoso, que exprime poder e riqueza.

A arte bizantina tinha um objetivo: expressar a autoridade absoluta e sagrada do imperador, considerado o representante de Deus, com poderes temporais e espirituais. Para que a arte atingisse esse objetivo, uma série de convenções foi estabelecida - tal como ocorrera na arte egípcia.

Uma dessas convenções foi a da frontalidade, uma vez que a postura rígida da personagem representada leva o observador a uma atitude de respeito e veneração. Ao mesmo tepo, ao reproduzir frontalmente as figuras, o artista mostra respeito pelo observador, que vê nos soberanos e nas figuras sagradas seus senhores e protetores.

Além da frontalidade, outras regras minuciosas foram impostas aos artistas pelos sacerdotes, como a determinação do lugar de cada personagem sagrada na composição e a indicação de como deveriam ser os gestos, as mãos, os pés, as dobras das roupas e os símbolos. Enfim, tudo o que poderia ser representado era rigorosa e previamente determinado.

Passou-se também a retratar as personalidades oficiais e as personagens sagradas como se compartilhassem as mesmas características: assim, a representação de personalidades oficiais sugeria tratar-se de personagens sagradas. Aao lado detalhe de mosaico em estilo bizantino que mostra o imperador Justiniano (547-548 d.C.). Igreja de São Vital, Ravena.

No mosaico ao lado, o imperador Justiniano aparece com uma auréola, símbolo característico de figuras sagradas, como Jesus Cristo, os santos e os apóstolos. Igual tratamento foi dado à representação da imperatriz Teodoro, localizada na mesma igreja.

As personagens sagradas, por sua vez, eram representadas com caracaterísticas das personalidades do Império. Jesus Cristo, por exemplo, aparecia como re e Maria como rainha. Da mesma forma, situações típicas da corte eram transpostas para as representações dos santos como é possível ver nessa Procissão dos mártires (c. 500-526), mosaico na parede interna da basilica de San Apollinare Nuovo, em Ravena, Itália.

No mosaico ao lado é possível observar uma procissão de santos e apóstolos aproximando-se de Cristo com a mesma solenidade dedicada, na vida real, ao imperador nas cerimônias da corte.

A ARTE CRISTÃ PRIMITIVA

O início do cristianismo foi marcado por uma série de perseguições aos cristãos. Em virtude dessas perseguições, os primeiros cristãos de Roma enterravam seus mártires - pessoas que morreram em defesa de sua fé - em galerias subterrâneas, as catacumbas. Assim, nas paredes e nos tetos dessas galerias foram registradas as primeiras manifestações da pintura cristã.

Em princípio, essas pinturas limitavam-se a representações de símbolos cristãos, como a cruz e a palma. Mais tarde, começaram a aparecer cenas do Antigo e do Novo Testamento.

É importante notar que essa arte cristã primitiva não era executada por grandes artistas, mas por homens do povo, convertidos à nova religião. Daí sua forma rude, às vezes grosseira, mas, sobretudo, muito simples.

Com o tempo, as perseguições aos cristãos diminuíram, até que, em 313, o imperador Constantino converteu-se ao cristianismo e autorizou seu culto. O cristianismo, então, expandiu-se, até que, em 391, o imperador Teodósio tornou-o a religião oficial do Império. Deu-se início, então, à construção dos templos cristãos, denominados basílicas, que mantiveram muitas das características romanas.

A arte cristã primitiva, primeiramente rústica e simples nas catacumbas, depois mais rica e amadurecida nas basílicas, prenuncia as mudanças que marcarão uma nova época na história da humanidade.

MOSAICO: LUXO E SUNTUOSIDADE EM PEDRAS COLORIDAS

O mosaico consiste na colocação, lado a lado, de pequenos pedaços de pedras de cores diferentes sobre uma superfície de gesso ou argamassa. Essas pedrinhas coloridas são dispostas de acordo com um desenho previamente determinado. A seguir, a superfície recebe uma solução de cal, areia e óleo que preenche os espaços vazios, aderindo melhor os pedacinhos de pedra.

Os gregos usavam os mosaicos principalmente nos pisos. Já os romanos utilizavam-nos na decoração, demonstrando grande habilidade na composição de figuras e no uso da cor. Na América os povos pré-colombianos, principalmente os maias e os astecas, chegaram a criar belíssimos murais com pedacinhos de quartzo, jade e outros minerais.

Mas foi com os bizantinos que o mosaico atingiu sua mais perfeita realização. As figruas rígidas e a pompa da arte de Bizâncio fizeram do mosaico a forma de expressão artística preferida pelo Império Romano do Oriente.

Assim, as paredes e as abóbadas das igrejas, recobertas de mosaicos de cores intensas e de materiais que refletem a luz em reflexos dourados, conferem uma suntuosidade ao interior dos templos que nenhuma época conseguiu reproduzir.

O caráter majestoso da arte bizantina pode ser observado também na arquitetura das igrejas. Um dos melhores exemplos é a basílica de Santa Sofia, em Istambul, Turquia; que a partir de 1935 tornou-se o museu de Santa Sofia.

Reconstruída no governo de Justiniano após um incêndio da antiga construção, essa basílica apresenta a marca mais característica da arquitetura bizantina: uma grande cúpula equilibrada sobre uma planta quadrada. A cúpula é formada por quatro arcos e ampliada por duas absides (recinto de teto abobadado, com planta semicircular ou poligonal, situado na extremidade de uma construção); estas, por sua vez, são amplidas por mais cinco pequenas absides. A nave central é circundada por colunas com capitéis detalhadamente trabalhados, que lembram capitéis coríntios.
O revestimento de mármore e mosaicos e a sucessão de janelas e arcos criam um espaço interno de grande beleza.
A ARTE BIZANTINA EM RAVENA
No século VI, Justiniano tentou reunificar o Império Romano, dando início às guerras de conquista do Ocidente.
Nesse contexto, a cidade de Ravena, importante ponto estratégico dominado há muito pelos ostrogodos, tornou-se um dos alvos mais visados pelo imperador para a conquista da península Itálica. Após várias tentativas, a cidade foi finalmente reconquistada em 540 e passou a ser o centro do domínio bizantino na Itália.
Na primeira metade do século V - portanto antes da época de Justiniano -, Ravena já tivera contato com a cultura bizantina. É desse período o exemplo mais conhecido e significativo de sua arquitetura: o mausoléu da imperatriz Gala Placídia.

Externamente, esse mausoléu é um edifício simples, revestido de tijolos cozidos. Sua planta segue o desenho de uma cruz e sua característica essencial é um cubo por cima da pequena cúpula central.
A simplicidade externa do mausoléu contrasta fortemente com a riqueza dos trabalhos artísticos do interior, recoberto com belíssimos mosaicos de motivos florais, nos quais predomina a cor azul.
As igrejas de Ravena que revelam a arte bizantina mais madura, porém, são as da época de Justiniano, como a de São Vital.
Devido à sua planta octogonal, o espaço interno dessa igreja apresenta possibilidades de ocupação diferentes da de outras igrejas.
A combinação perfeita de arcos, colunas e capitéis fornece o elementos de uma arquitetura adequada para apoiar mármores e mosaicos.
Destacam-se ainda, na igreja de São Vital, mosaicos como o do imperador Justiniano e o da imperatriz Teodora, com seus respectivos séquitos levando oferendas ao templo. São obras que expressam de modo significativo o compromisso da arte bizantina com o Império e a religião.
OS ÍCONES BIZANTINOS
Além de trabalhar nos mosaicos, os artistas bizantinos criaram os ícones, uma nova forma de expressão artística na pintura. A palavra ícone, de origem grega, significa "imagem". Como trabalho artístico, os ícones são quadros que representam figuras sagradas, como Jesus Cristo, a Virgem, os apóstolos, santos e mártires. Em geral, são bastante luxuosos.

Para pintar os ícones, os artistas utilizavam a técnica da têmpera ou a da encáustica, lançando mão de recursos que realçavam os efeitos de luxo e riqueza. Em geral, revestiam a superfície da madeira ou da placa de metal com uma camada dourada, sobre a qual pintavam a imagem. Para fazer as dobras das vestimentas, as rendas e os bordados, retiravam com um estilete a película de tinta da pintura. Essas áreas, assim, adquiriam a cor de ouro do fundo.
Às vezes, os artistas colavam jóias e pedras preciosas na pintura, chegando até a confeccionar coroas de ouro para as figuras de Jesus Cristo ou de Maria. Essas jóias, aliadas ao dourado no detalhes das roupas, davam aos ícones um aspecto de grande suntuosidade.
Em geral, os ícones eram venerados nas igrejas, mas não raro eram encontrados nos oratórios familiares, uma vez que se tornaram populares entre muitos povos, mantendo-se por muito tempo como expressão artística e religiosa.
Os ícones russos tornaram-se famosos - particularmente os da cidade de Novgorod, entre oa quais se destacam, pela expressividade, Mãe de Deus e São Floro, São Jaime e São Lauro.
Depois da morte do imperador Justiniano em 565, aumentaram as dificuldades políticas para que o Oriente e o Ocidente se mantivessem unidos. O Império Bizantino sofreu períodos de declínio cultural e político, mas conseguiu sobreviver até o fim da Idade Média, quando, em 1453, Constantinopla foi invadida pelos turcos.
UM POUCO DE SANTA SOFIA EM SÃO PAULO
Entre os anos 1934 e 1939, foi construída, na cidade de São Paulo, uma réplica da basílica de Santa Sofia. Essa igreja é a sede do arcebispado da Igreja Ortodoxa do Brasil.
Entre os vários aspectos de sua arquitetura e pintura que chamam a atenção do observador, destacam-se a grande cúpula central com semicúpulas, que dão amplitude ao espaço interno, e o iconostásio - painel com os ícones -, considerado o mais belo da América Latina.
AS TÉCNICAS DA TÊMPERA E DA ENCÁUSTICA

Têmpera é o nome dado a um dos modos como os artistas bizantinos preparavam a tinta usada em seus ícones. Consiste em misturar os pigmentos a uma goma orgânica - em geral gema de ovo - para facilitar a fixação das cores à superfície do objeto pintado. O resultado é uma superfície brilhante e luminosa. Mais tarde, com o desenvolvimento da pintura a óleo, essa técnica foi abandonada. Alguns pintores, porém, continuaram a utilizá-la, como é o caso do brasileiro Alfredo Volpi (1896-1988).
Já a técnica da encáustica foi usada desde a Antiguidade. Os gregos, por exemplo, a utilizavam para colorir suas esculturas de mármore. O processo consiste em diluir os pigmentos em cera aquecida e derretida no momento da aplicação. Ao contrário da têmpera, cujo efeito é brilhante, a pintura em encáustica é semifosca.

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